Confira algumas marcas que apostaram na tendência manualidades – peças “feitas a mão”
As coleções no SPFW + Origens abraçaram a tendência manualidades, resgatando tradições ancestrais e promovendo peças feitas à mão. Essa abordagem gera um valor econômico e social significativo, além de oferecer uma alternativa mais sustentável, minimizando o impacto ambiental. Ao privilegiar a produção manual, as marcas promovem a regeneração cultural e o fortalecimento de práticas tradicionais, contribuindo para um futuro mais consciente e autêntico.
Nós da Antennaweb escolhemos algumas marcas que apresentaram essa tendência e iremos compartilhar com vocês:
DEPEDRO – Peças de crochê e técnicas como: patchwork, fuxico franjas
Marcus Figueirêdo, o fundador e diretor criativo da Depedro, revela o meticuloso processo por trás de suas criações, revelando que algumas peças levaram até seis meses para serem finalizadas. Originária do Seridó, no Rio Grande do Norte, a marca celebra o regionalismo em suas coleções, valorizando os ricos bordados tradicionais do sertão, como a renda richelieu e a renascença, conferindo-lhes o merecido destaque. Nesta temporada, essa abordagem ganha ainda mais destaque com a harmonização entre o passado e o futuro, onde técnicas ancestrais encontram-se com materiais sustentáveis como o algodão orgânico e a biopintura. A paleta de cores, por sua vez, é delicada e versátil, abrangendo cinco famílias de tons, desde os terrosos até os tons celestiais.
Além disso, a Depedro ressalta o valor das técnicas manuais, como o patchwork, fuxico e franjas, que conferem uma identidade única e artesanal às suas peças. O patchwork, com sua união de retalhos, traz uma rica mistura de texturas e cores, enquanto o fuxico, técnica de costura tradicional, adiciona um toque de delicadeza e sofisticação. Já as franjas, com seu movimento fluido, proporcionam um acabamento elegante e dinâmico às criações da marca. Essas técnicas, ao serem integradas ao processo de design, não apenas enriquecem esteticamente as peças, mas também preservam e promovem a rica tradição artesanal brasileira.
HELÔ ROCHA – A delicadeza do handmade
A coleção “O Sertão Vai Virar Mar” de Helô Rocha foi um verdadeiro tributo às suas ancestralidades, exalta os trabalhos manuais característicos do nordeste brasileiro, destacando bordados intricados, rendas delicadas, crochês elaborados e aplicações meticulosas de pedrarias. Cada peça é uma homenagem às tradições artesanais da região, imbuídas de história, cultura e autenticidade. O nome da coleção, evocativo e poético, sugere uma transformação profunda, onde o árido sertão se converte em vastos mares de possibilidades criativas.
Ao combinar técnicas tradicionais com uma estética contemporânea e sofisticada, Helô Rocha e Camila Pedroza oferecem uma visão única e marcante da moda brasileira, enaltecendo a riqueza e diversidade do patrimônio cultural do país. Suas criações não apenas celebram a beleza do artesanato regional, mas também convidam o espectador a mergulhar em um universo de encanto e fascínio, onde o passado e o presente se entrelaçam em uma dança harmônica de criatividade e tradição.
APARTAMENTO 03 – A qualidade das franjas minuciosamente costuradas
Luiz Claudio Silva, estilista da Apartamento 03, recentemente mudou-se de Belo Horizonte para São Paulo e encontrou inspiração em um quadro do artista contemporâneo afro-brasileiro Emerson Rocha. O azul profundo presente na obra despertou seu interesse, conectando-o com a ancestralidade africana, tema refletido na coleção da Apartamento 03, onde o azul intenso do waji, pigmento que origina o índigo na África, foi o protagonista.
Inspirado pelo waji, símbolo de purificação e transformação, Luiz Claudio encontrou uma narrativa poderosa para sua coleção, refletindo sua própria jornada de autodescoberta. O contexto histórico permeia cada peça, infundindo-a com uma poesia única e uma sensação de leveza, enquanto os detalhes meticulosamente trabalhados, como plissados tridimensionais, franjas, penas, bordados e aplicações de flores de tecido, agregam uma preciosidade incomparável ao design de superfície.
WEIDER SILVERIO – Trabalho artesanal regional com rendas e técnicas de tapeçaria
O estilista piauiense Weider Silveiro, conhecido por sua moda global, está explorando temas regionais do Nordeste em suas criações, incorporando técnicas manuais populares, tradicionalmente consideradas regionais, que agora são vistas como luxuosas. Segundo ele, esse momento representa um resgate de suas origens, o que tem renovado sua perspectiva sobre o artesanato.
Nessa coleção, o estilista apresentou a tapeçaria (técnica de tecelagem que cria padrões ou imagens em tecido, tradicionalmente realizada em um tear vertical) para desenvolver uma variedade de possibilidades criativas, desde padrões geométricos até representações figurativas detalhadas. A tapeçaria foi frequentemente usada para adicionar textura, padrão e interesse visual às peças de vestuário, especialmente quando combinada com bases casuais em malha, piquê e jeans, resultando em looks únicos que misturam tradição e modernidade.
DAVID LEE – Uma coleção repleta de trabalho artesanal
David Lee, estilista de Fortaleza, apresentou uma coleção inspirada nos ventos e no kitesurf, buscando reutilizar pipas do esporte em peças únicas de vestuário. Ele adota uma abordagem inteligente, combinando elementos do kitesurf, como lonas coloridas, em calças, jaquetas e acessórios, sob o nome “Barlavento”, em referência às intensidades dos ventos. Em contraste, sua coleção também inclui jeans com lavagens a laser e tecido de pelinhos em várias peças, proporcionando um equilíbrio entre o estilo urbano e o artesanato.
A linha de David Lee apresenta uma mistura única de casual esportivo e inovação, com peças como aventais de patchwork e calças de crochê com pontos 3D, complementadas por tricôs e tweeds felpudos. Essa abordagem criativa resulta em momentos comerciais e imagens fortes para consumidores interessados em moda e artesanato.
ATELIER MÃO DE MÃE – Uma coleção com foco no trabalho feito à mão
O Ateliê Mão de Mãe, reconhecido pela sua abordagem artesanal e familiar na moda, apresentou a coleção “Abre-Caminhos”, inspirada na planta de mesmo nome, reverenciada por suas propriedades medicinais e espirituais. Esta coleção apresenta pela primeira vez peças de tecido, incluindo um vestido e uma camisa estampados com cerejeiras, além de um conjunto com mandalas que simulam pontos de crochê.
A habilidade manual permanece como destaque, com uma variedade de peças adornadas com franjas, tranças, bordados e motivos espirituais como búzios, figas e cristais. A coleção também apresenta inovações divertidas, como polainas e luvas de crochê, além de bolsas pequenas e médias e chinelos Havaianas.
RONALDO SILVESTRE – Coleção feita 100% com materiais de descarte com a ajuda de artesãs
Para este projeto, Ronaldo Silvestre realizou uma colaboração que envolveu artesãs da região de Itabira, Minas Gerais, em parceria com o Instituto Igualdade, Transformação, Inovação Social (ITI). Ronaldo enfatizou a importância de utilizar a moda como meio de sustento, compartilhando seu conhecimento com as costureiras locais. A brasilidade da coleção se manifestou na essência do trabalho, agora enriquecido com a contribuição do stylist Heleno Manoel, que trouxe coesão e elegância às ideias apresentadas.
Ronaldo Silvestre surpreendeu ao apresentar uma coleção inteiramente confeccionada com materiais descartados. Utilizando restos de tecidos esportivos, ele criou formas fluidas e estruturadas sobre rendas, tules, moletom e jeans. A estamparia de folhagens e florais, em três desenhos, complementava as peças, enquanto os coletes e acessórios tridimensionais eram confeccionados com macramês e franjas feitas de cadarços de tênis reciclados.
SANTA RESISTÊNCIA – As bolsas de barro e looks em macramê
Monica Sampaio, fundadora da Santa Resistência, mostrou na coleção “Paixão segundo Catulo” a história do poeta Catulo da Paixão Cearense de maneira lúdica, fortalecendo a memória cultural. As roupas davam o protagonismo para os bordados e estampas que representavam os sertanejos e o sertão brasileiro.
Além disso, Monica convidou dois criadores para colaborarem com a coleção: o designer baiano Dih Morais, responsável pelas bolsas de barro, e a artesã cearense Samara Luiza, que contribuiu com os looks em macramê, uma técnica manual que consiste em entrelaçar fios para formar padrões geométricos ou decorativos, demonstrando o valor da criação artesanal brasileira.
João Pimenta – Bordados em fio de ouro
A coleção de João Pimenta ganhou destaque em um desfile íntimo com peças marcadas por um intricado trabalho artesanal, o qual explorava o sincretismo religioso brasileiro. A coleção apresentou uma profusão de bordados dourados em fios de ouro, rendas e brocados, que se destacam em calças e trench coats.
O dourado, junto ao preto, domina a paleta de cores, proporcionando uma estética minimalista com sobreposições de elementos. A coleção então transita para uma série em branco, conectando-se com as entidades afro-brasileiras. Detalhes como crinolinas, pregas e laços propuseram volume às peças, criando uma atmosfera monástica. João Pimenta manteve a sua criatividade característica, enriquecendo suas criações com bordados e rezas, sem perder a originalidade.